Seja fiel a quem você é de verdade…

Mudanças são necessárias e ajudam muito na resolução de situações indesejáveis. A verdade é que a gente sempre sabe, ainda que acredite que não, o que fazer para alterar a realidade. O difícil é que o hábito, o costume e a mesmice atrapalham muito. Mudar não é fácil. A gente se acostuma com quem está sendo é descobre que a transformação é árdua e vai exigir uma dedicação absurda.

É um trabalho contínuo que demora a dar um minúsculo resultado, e que quando começa a aparecer é bem pequenininho. Você acerta um passo com muito esforço e erra uns 15. Parece dar o famoso “murro em ponta de faca”. Somos imediatistas e queremos uma solução rápida, instantânea. Quem não desanima ao saber que precisa esperar por um longo período para conquistar, transformar algo?

Você passa anos fazendo merda e quer limpar tudo em fração de segundos. E isso não dá pra fazer. Às vezes dói e dói muito. O desespero bate porque a gente quer arrancar a dor, a angústia da alma e não consegue. É o cansaço que toma conta do corpo, o raciocínio que fica lento, a produção que cai, o desânimo que ocupa um espaço enorme na vida e a crença de que as situações parecem não ter jeito, ainda que uma voz bem fraquinha dentro do peito diga que tem alternativa sim.

Mudar é um enorme passo de liberdade. É romper com todas as amarras que nos prendem a hábitos destrutivos, que minam quem somos e deixa em seu lugar um enorme vazio. Acho bacana quem consegue tirar um período sabático. Mas isso não significa que quem não pode reservar um tempinho pra si também não consiga transformar a sua vida.

Às vezes falta aquela vontade, a determinação que diz que você só vai parar quando conseguir. É essencial perseverar, ter foco e colocar toda a concentração e energia na mudança que você precisa promover na própria vida. É a renda melhor, a forma de relacionar com as pessoas, a postura diante da vida. A dedicação a si próprio que vai trazer a tão sonhada qualidade de vida.

É o respeito à alma que anseia e grita pela transformação. Que suplica pela autenticidade, para que o ser verdadeiro aflore e tome seu lugar, tirando o impostor que vive um personagem mentiroso, fraco, sem anseios, desesperançoso. A gente sabe que a mudança  de postura vai trazer tudo aquilo que representa de fato quem somos.

Uma atitude que vai fazer com que a nossa vida seja infinitamente melhor e cheia de amor próprio e autoconfiança. Ainda assim desistimos de investir nessa transformação. Porque travamos uma luta conosco mesmo, nos criticamos e não admitimos errar. Queremos tomar a decisão da mudança e ver a transformação pronta como num passe de mágica.

Isso não existe. E é essa realidade que desanima. Esse imediatismo que quer ver o resultado pronto, que não quer esperar.  Falta coragem pra investir na melhoria dos nossos sentimentos, da forma que nos expressamos, de assumir a verdade que habita em nosso ser. Isso significa deixar de ser “boazinha” ou “malvada”. Assumimos um papel que não é nosso e depois temos dificuldade de deixá-lo ir. Afinal foram tantos anos de convivência que acabamos assumindo o comportamento mentiroso como realidade.

Pura mentira. Pra que fingir que é durona se a pessoa que você é de verdade é doce, sensível. O que você ganha se apequenando diante das pessoas pra ser aceito e tido como uma pessoa simples, fácil de lidar, que não reclama, que é pacífica, amorosa, se dentro de você tem um vulcão que teima em querer entrar em erupção e você não deixa. E, porque não deixa, adoece em todos os sentidos.

É preciso parar de fingir. Fingir que está bom quando não está. Fingir que você tem uma personalidade que não corresponde a ser quem se é. Tenha coragem de ter opinião contrária a maioria, se é isso que está aí dentro. Sejamos honestos conosco. Sem medo de desagradar. Façamos um propósito conosco de que querer ser a cada dia quem de fato somos.

Vamos deixar a preguiça de lado e parar de correr para o velho, nos acomodando com a situação que é mais fácil, reviver diariamente a mentira de não ser quem é. A meta é ter coragem de viver a vida que se quer, que te represente. Não tenha preguiça de viver isso. Dedique-se a esse projeto. Você não vai gastar nem um centavo. O único recurso que você precisa é o comprometimento.

O segredo é estar presente de corpo e alma em tudo o que faz. Esteja consciente. Não fuja para um mundo paralelo e nem fantasie. A realidade é essa, a situação não está do jeito que você quer, então faça a cada dia o que pode ser feito pra ganhar confiança. Não deseje a vida dos personagens de TV ou das pessoas na internet. Elas também passam por situações delicadas e você não sabe. Não deseje uma vida que talvez seja pior do que o seu problema.

A sua vida é a melhor, o seu corpo é o melhor, o seu jeito, o seu talento, o seu sorriso. Não se deixe contaminar pelo vírus da inferioridade. Você pode fazer e ser o que você quiser desde que isso não te faça mal e nem prejudique as outras pessoas. Invista no seu autoconhecimento. Pare de consumir aquilo que você não gosta, não aprecia, só pra não desagradar, pra fazer parte de um grupo.

O melhor estilo de música é o que te agrada, o estilo de roupa que você gosta é o mais bacana e os programas de TV que você curte são os mais incríveis. A vida é sua. Você que se mantém, você que se banca em todos os aspectos, inclusive nas dores emocionais, físicas. Nos problemas do dia a dia. Então você tem todo o direito e obrigação de ser fiel a quem é. De mostrar ao mundo a pessoa real que tem aí dentro e a partir daí conviver com pessoas que tem mais a ver com você e farão com que a sua vida tenha sentido.

Seja fiel a quem você é de verdade…

Gratidão ou escravidão?

Ninguém é autossuficiente, correto? Em algum momento na vida precisamos ou iremos solicitar o auxílio de alguém. A questão é quando a pessoa que ajuda espera que o outro seja eternamente grato, ou melhor, escravo. Tem que dizer sim para todas as suas vontades, bajular e ao apresentá-la para alguém, falar o quanto a pessoa que ajudou é boa, generosa e como o mundo seria ruim sem a existência dela.

Ser grato é reconhecer o auxílio e socorro recebidos. É passar essa generosidade adiante porque foi acolhido quando precisou. Sentir no fundo da alma um carinho imensurável e o desejo de que a vida da pessoa que o ajudou seja repleta de muita paz, alegria e amor.

Uma sensação de que o seu desejo de que o melhor aconteça pra essa pessoa e seus familiares ainda é pouco. Que tudo na vida dela e dos seus seja espetacular, doce, próspero, cheio de amor e afeto. Que ela sinta ao menos um pouquinho de tudo de bom que ela proporcionou na sua vida.

Que o bem que esse ser fez retorne multiplicado infinitas vezes. Que Deus retribua da melhor maneira na vida dessa criatura. Às vezes a gente não é capaz de definir essa gratidão. Sentimos, mas não conseguimos mensurar. E aí a gente pede pra Deus entrar da forma mais especial na vida da pessoa que o socorreu.

A questão é que muita gente não ajuda de forma gratuita. A pessoa quer se promover, é o modo que ela tem de mostrar ao mundo o quão generosa é. Esse ser humano não se contenta em fazer. Ele quer gritar aos ventos que sua generosidade não tem limites.

Acompanhada dessa promoção vem uma dívida que só ele consegue ver e multiplicar, remultiplicar a gentileza antes oferecida como gratuita. É mais ou menos assim: “leva e depois você paga, não se preocupa.” São juros de um agiota emocional e doente que se julga pela avaliação e reconhecimento dos outros.

Um vampiro emocional que suga suas vítimas na intenção de se autopromover. São seres doentes. E se você caiu na mão de um desses, não se culpe e não aceite ser acorrentado. Apenas corte essas amarras e seja livre, sem culpa. Esse agiota emocional vai te cercar de todos os lados, tentando fazer com que você se sinta culpado, ingrato e o pior ser humano da face da terra.

Seja grato no seu coração, em suas orações. Você sabe o que passa aí dentro. Esse papinho de “você não me liga, não gosta mais de mim, me abandonou, não tá nem aí pra mim” é uma dica de que a pessoa se faz de coitada pra te manipular. Ai você pensa que a pessoa te socorreu e você tá sendo mesquinho. A verdade é que o mesquinho da história não é você.

Se você conhece alguém assim, fica ligado! O discurso é sempre o mesmo. A pessoa ajuda a humanidade inteira: pai, mãe, esposo, esposa, filhos, vizinhos, amigos, cachorro, gato, papagaio e ninguém reconhece. Depois que ela ajuda alguém, a pessoa some. Só se aproximam quando precisam de alguma coisa e esse ser humano, bondoso como é, acaba ajudando. Não guarda rancor, tem o coração mole. 

Fica esperto ao ouvir esse papo furado e liga o seu alarme. Caso tenha passado por alguma situação parecida, comece a reparar em quem pode confiar e em quem quer se promover à custa dos problemas alheios. O mais interessante é que se reparar a vida desses seres incríveis vai perceber o quão bagunçada é. Eles “resolvem” a vida de todo mundo menos a deles.

Os conselhos e a sabedoria são infinitos, mas nunca se aplicam a vida dos salvadores da pátria. Não tenha medo de reconhecer que aquele ser humano maravilhoso tem um lado nocivo. Você pode conviver com essa pessoa, mas fique atento. Geralmente fala mal dos outros na ausência e na frente é dócil e amável. 

Não é problema que as pessoas saibam que o outro foi ajudado. A pessoa que foi socorrida pode compartilhar sua gratidão. O que eu percebi em pessoas que são realmente livres na alma e que ajudam quando podem é que elas são discretas. Elas não fazem pra mostrar pra ninguém. O foco delas é amparar, auxiliar.

Fazem isso tão bem e deixam um rastro de bondade que são invisíveis. Está impresso em suas almas essa gesto de compaixão. Ajudam porque podem, elas tem o que oferecer e tem de sobra. Fazem o que podem. São abundantes em desprendimento e solidariedade. 

Eis a diferença. Ajudam porque querem, faz parte de quem são. Não precisam de publicidade. Aliás, hoje vivemos em um mundo pago. Não há mais gratuidade. É mais ou menos assim: alguém doa uma impressora que está encostada e talvez com algum defeito. Depois querem que a pessoa que recebeu a doação seja imediatista em lhes retribuir o favor.

Se você é eletricista tem que ir em um feriado, no meio da noite, socorrer o sujeito que lhe deu a impressora encalhada. Porque ele doou e o outro foi ingrato. Trocou toda a fiação da casa ou apartamento e ainda cobrou. É outra característica de doadores fake. Eles superfaturam o favor, o presente, a doação.

Bom senso é bom e faz bem a alma de qualquer ser humano. Nunca é demais. Ninguém vira escravo por ter recebido um favor ou uma doação. Sério. Pegou dinheiro emprestado, mas pagou. Ganhou um fogão usado e com alguns problemas, mas sempre foi um funcionário honesto, responsável, comprometido, acessível.

Cara, sinceramente? Você deu carona pro seu colega de trabalho porque quis. Deu o ingresso de presente porque você ganhou e não podia ou não queria usufruir simplesmente por não curtir o prêmio. Aí fica alegando a vida inteira e divulgando pro universo. Pegou aquelas roupas pebinhas e velhas, quase rasgando e doou pra alguém porque não serviam pra mais nada a não ser pano de chão ou lixo.

Agora você que recebeu um favor ou doação deixa de ser bocó e ficar cheirando a bunda do outro pra não parecer ingrato. Seja grato a sua coragem de pedir um favor quando precisou e mais ainda pela sua honestidade em honrar o compromisso feito. O resto é balela.

Seja grato por pessoas que são realmente especiais. Aquelas que são tão fantásticas que você seria capaz de abrir mão do seu lazer pra dar uma força para aquela pessoa. Ou adiar a data da viagem por dois dias pra participar da festa de aniversário daquele ser que te ajudou. Porque quem te ajudou é tão foda, tão gratuito que você mesmo se doa, mesmo não sendo cobrado. O seu coração transborda gratidão, a gratidão recebida quando você precisou de ajuda.

A pessoa que te socorreu fez tua alma transbordar de uma forma tão absurda que você sente vontade de passar esse amor adiante. Você tem vontade de ajudar, socorrer porque experimentou do amor fraterno mais puro e não da mediocridade que escraviza. Porque gratidão é diferente de escravidão.