Eu tenho observado a um bom tempo o quanto reclamamos demais. Virou um vício e nem percebemos. Ficou comum. Somos sempre vítimas ou críticos. Parece não ter outra alternativa. Até pra puxar assunto as pessoas usam a reclamação. O mais interessante ou intrigante é que um reclama e logo consegue o apoio de outros, ainda que não se conheçam. E não é só isso, além de reclamarmos bastante, ainda falamos muito em tragédias.
É uma doença que parece se alastrar e agravar sem controle. Ou reclamamos ou nos fixamos em tragédias. Parece que as pessoas não conseguem falar em coisas boas. Um dia eu conversava com um negativo ambulante que só reclama e que tudo de ruim acontece com essa pessoa. Na testa está escrito: “Vítima”. O pior é que a vítima é sempre bonzinho, generoso, honesto, de bom coração, boa índole, tem caráter, sabe se colocar no lugar do outro. A lista de qualidades é extensa. O bonzinho é sempre explorado e injustiçado. Até cansa ouvir o discurso repetitivo e chato.
O engraçado é que teve um momento que eu estava esgotada de tanta coisa ruim que saía da boca da pessoa e tentei desviar com algo engraçado, sabe? Mudei o rumo da conversa bruscamente e falei da cena de um filme ou seriado, não lembro. Pois a pessoa mais do que depressa usou o que eu tinha falado pra reverter pra coisa ruim. Eu fiquei espantada e até aquietei com a pancada. Não tive como reagir. Foi mais ou menos assim:
– Olha, que bonito aquele passarinho!
E a pessoa responde:
– Se tivesse passado na minha rua já tinham jogado pedra e matado.
Caramba! Que difícil conviver com gente assim.
Eu já fiquei muda em filas e tive a sorte de estar entre duas pessoas reclamonas. Como eu não dava moral, elas pulavam pra outra e eu ficava no meio do sanduíche, doida pra chegar a vez de quem tava na minha frente e ver se aquele mimimi parava. Você tá olhando um produto e chega alguém pra falar como os preços aumentaram, sobre corrupção, desigualdade e um monte de coisas ruins. Gente, parem, por favor. Menos, né? Deve ter um outro jeito de puxar assunto. Elogiar o produto ou perguntar se ele é bom. Qual a dificuldade em inverter o discurso?
Tem dia que você tá bem, cheio de vida. Aí chega alguém que, quando vai embora, te deixa murcho de tanta negatividade, sem disposição e otimismo nenhum. Já trabalhei em um lugar que o clima não só ficava pesado como tudo dava errado quando o chefe chegava ou ligava. Era algo impressionante. Eu comecei a pensar que era resistência, depois vi que não. A pessoa era inconveniente, mal humorada e via tudo pelo lado sombrio.
Aí você tem uma enxurrada de exemplos. Gente que reclama o TEMPO INTEIRO e repetidamente: do cônjuge, da família, do trabalho, da economia, da política, da cidade, do país, da vizinhança e por aí vai. Tem até reclamação de estimação. A mesma situação, lugar ou pessoa durante anos. Virou ou não virou apego? Esquisito, né? Pois é, tenho reparado muito nisso. No quanto é difícil conversar com alguém sobre algo divertido ou dar uma perspectiva engraçada para uma situação não tão bacana. Tá raro encontrar pessoas com essa disponibilidade. O foco é sempre o ruim, o pesado e o perverso. Isso é contagiante e esgota a alegria da alma.
Gente, se alguém tiver nesse ciclo vicioso, por favor, pro seu bem, pare. É um hábito altamente destrutivo e silencioso porque ninguém percebe. Vive dessa forma com uma naturalidade que não existe. É um hábito nocivo que deixa a vida desbotada, triste e sem cor. Pense nisso!